BIOGRAFIA
Anne Frank (1929-1945) tornou-se um dos rostos mais conhecidos das vítimas do Holocausto graças ao seu diário, escrito enquanto se escondia dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Nascida em Frankfurt, Alemanha, mudou-se com a família para Amesterdão para escapar à perseguição antissemita, mas, em 1942, foi forçada a viver escondida num anexo secreto durante dois anos. No diário, Anne registou não apenas os horrores da guerra, mas também reflexões profundas sobre a vida, a adolescência e a esperança. Em 1944, foi descoberta e deportada para o campo de concentração de Bergen-Belsen, onde morreria, provavelmente de tifo, pouco antes do fim da guerra. Publicado pelo seu pai, o único sobrevivente da família, O Diário de Anne Frank tornou-se um dos livros mais lidos e traduzidos do mundo, testemunho comovente da resistência humana face à barbárie e da importância da memória histórica.
WER, WENN ICH SCHRIEE, DO LIVRO RILKEANA – VARIAÇÕES ELEGÍACAS
ANA HATHERLY
Quem, se eu gritar
me concede
a profundeza inversa deste céu
que ao fim da tardeeu vejo da minha janela
contemplando os anjos
que as nuvens imitam?
Alguém me ouve se eu gritar?
Oiço vozes
mas são vozes inventadas
porque é inútil perscrutar o silêncio
e por isso vos reinvento
a cada pancada do meu coração
a cada pancada surda
que não repercute
no ímpeto claro do vosso desenho fantástico
no alado lado da vossa impossibilidade
Se eu gritar
alguém me ouve
em todas estas coisas?
Nenhum anjo
escuta o meu grito
que não penetra a noite
e só encontra o eco de nenhum desejo
E lançando dos meus braços o desejo
não invejo
admiro
a sufocante beleza deste ocaso
cheio de nuvens velocíssimas
e tudo o que eu sinto
é tão imenso
como este ocaso
dantesco
tiepolesco
wagneriano
que eu contemplo
doente do excessivo amor do que é belo
que me afoga
na sua imensidão aérea
E tão fortuitamente criado pelo vento
e pela terra que se inclina
este ocaso laranja sobre azul
esplêndido e kitsch
é tão impermanente
como vós
nuvens-anjos que me arrebatais
com vossos incêndios imensos e falsos
ilusão de óptica que me fascina e oprime
Encostada à minha janela
contemplo a vossa beleza
que a todo o instante
se faz e se desfaz
até o chumbo da sombra avançar
e aos poucos surgir a noite
antiga e idêntica sempre
Lançando-me em vossos braços vazios
cheios só de vozes inaudíveis