Alma Minha Gentil, que te Partiste de Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

Alma Minha Gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida descontente,

Repousa lá no Céu eternamente,

E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente,

Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te

Algũa cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.

Biografia

Maria Callas (1923-1977) foi uma soprano greco-americana considerada uma das maiores cantoras líricas do século XX. Nascida em Nova Iorque, filha de imigrantes gregos, estudou canto em Atenas e iniciou carreira profissional na década de 1940. Destacou-se pela voz dramática, com ampla extensão e expressividade, e pela capacidade de unir rigor técnico e emoção intensa. Tornou-se estrela internacional ao interpretar papéis de ópera como Norma, Tosca e La Traviata. Callas também foi reconhecida pela presença cénica marcante, transformando cada atuação num acontecimento teatral. A sua vida pessoal, marcada por uma relação mediática com o armador Aristóteles Onassis, alimentou a aura de diva. Embora a voz tenha sofrido alterações na década de 1960, a sua influência artística manteve-se. Callas deixou gravações históricas e redefiniu a interpretação operática, sendo venerada tanto por especialistas como por novos públicos.