BIOGRAFIA
Édith Giovanna Gassion (1915–1963), conhecida mundialmente como Édith Piaf, foi a voz inconfundível de França, uma das maiores intérpretes da música popular do século XX. Nascida em Paris, cresceu em condições difíceis: a mãe, cantora de rua, abandonou-a e o pai, artista de circo, deixou-a ao cuidado da avó, dona de um bordel na Normandia. Ainda criança, contraiu queratite, quase ficando cega, mas recuperou. Começou a cantar nas ruas aos 14 anos, acompanhada por um amigo músico, para sobreviver. O seu talento foi descoberto em 1935 pelo dono de um cabaré, Louis Leplée, que lhe deu o nome artístico “La Môme Piaf” (o pequeno pardal). A sua voz intensa e carregada de emoção rapidamente conquistou Paris. Durante a Segunda Guerra Mundial, Piaf cantou para soldados franceses e, segundo alguns relatos, ajudou prisioneiros a escapar, fornecendo-lhes documentos falsos. Compositora e intérprete, imortalizou canções como La Vie en Rose, Non, je ne regrette rien, Hymne à l’amour e Milord. A sua vida pessoal foi marcada por paixões intensas e tragédias, como a morte do pugilista Marcel Cerdan, seu grande amor. Sofreu vários acidentes e doenças, desenvolvendo dependência de morfina e álcool, o que agravou a sua saúde. Apesar do sofrimento, Piaf manteve-se nos palcos até ao fim, interpretando com uma entrega absoluta que tocava profundamente o público. Morreu aos 47 anos, oficialmente de causas relacionadas com o fígado, mas o corpo debilitado refletia uma vida vivida ao extremo. O seu funeral reuniu milhares nas ruas de Paris e até hoje continua a inspirar artistas e a simbolizar a alma romântica e trágica da canção francesa.
OLHA, DAISY, QUANDO EU MORRER TU HÁS-DE
FERNANDO PESSOA/ÁLVARO CAMPOS
SONETO JÁ ANTIGO
Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de
Londres pra Iorque, onde nasceste (dizes…
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,
Embora não o saibas, que morri…
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará… Depois vai dar
a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande…
Raios partam a vida e quem lá ande!