BIOGRAFIA
Clarice Lispector (1920-1977) foi uma das escritoras mais originais e enigmáticas da literatura brasileira. Nascida na Ucrânia, chegou ao Brasil ainda bebé, fugindo com a família das perseguições antissemitas. Cresceu no Recife e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito. Publicou o primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1943), aos 23 anos, revolucionando a narrativa brasileira com introspeção psicológica e estilo fragmentado. Clarice explorou o interior das personagens, os silêncios e as epifanias, com uma linguagem poética e densa. Entre as suas obras destacam-se A Hora da Estrela, Laços de Família e A Paixão Segundo G.H.. Trabalhou como jornalista e viveu no exterior devido à carreira diplomática do marido. A sua escrita, por vezes hermética, é considerada profundamente existencial e universal, abordando temas como identidade, solidão e transcendência. Clarice tornou-se um mito literário, cercada de fascínio pela sua personalidade reservada e pela intensidade da sua obra, que continua a influenciar leitores e escritores no mundo inteiro.
O CÂNTICO DA MULHER
CORA CORALINA, PSEUDÔNIMO DE ANNA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO BRETAS
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.
Estribilho
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.