BIOGRAFIA
Emily Elizabeth Dickinson (1830–1886) foi uma poetisa norte-americana cuja obra, marcada por introspeção, originalidade formal e profundidade filosófica, só seria amplamente reconhecida após a sua morte. Nascida em Amherst, Massachusetts, viveu praticamente toda a vida na casa da família, adotando um estilo de vida recluso a partir da juventude. Comunicava-se com amigos e conhecidos sobretudo por cartas, muitas vezes acompanhadas de poemas. Durante a vida, publicou apenas alguns textos, quase sempre de forma anónima ou alterada por editores. A sua poesia, no entanto, era radicalmente inovadora: uso de rimas incompletas, maiúsculas inusitadas e travessões, criando um ritmo único. Os seus temas vão da natureza à mortalidade, da fé à dúvida, sempre explorando a experiência humana com intensidade e concisão.
Após a sua morte, a irmã Lavinia descobriu mais de 1.700 poemas, que foram publicados — inicialmente editados para seguir normas da época, mas mais tarde restaurados na sua forma original. Hoje, Emily Dickinson é considerada uma das figuras mais influentes da literatura ocidental, precursora de movimentos modernistas e símbolo de independência criativa. A sua reclusão e a recusa em seguir convenções literárias reforçam a aura de mistério que a rodeia, inspirando incontáveis estudos, adaptações e homenagens.
CISNE, NO LARGO DO MEU JARDIM
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO
Desde a idade clássica o poeta
crê que o cisne ao morrer canta.
Mas não cantou. Louco, desceu
da superfície alta das águas
na noite sem clarões, compacta.
Sentiu apenas que entre os vivos,
que adormeciam, a morte vinha
e moribunda o ouvia.
E os poetas releram de manhã,
Nos poemas clássicos, que um cisne
imaginara a dor eterna
Da eterna morte humana.