Tomar foi a sede da Ordem do Templo em Portugal, desde a década de 1160 até à sua extinção em 1312, sendo significativos os indícios da presença dos templários na cidade. Fundada no início da era cristã, com a designação de Sellium, marginava a via romana que ligava Bracara Augusta (Braga) a Olissipo (Lisboa), situando-se na margem direita do Rio Nabão. Chamada de Selio pelos visigodos, converter-se-ia na cidade muçulmana de Thamara, até o seu território ser entregue aos templários por D. Afonso Henriques, no ano de 1159, na sequência da doação do termo do Castelo de Ceras, compensando a outorga frustrada de Santarém. Atraído pela localização estratégica da antiga vila romana, o Mestre da Ordem do Templo em Portugal, D. Gualdim Pais, deliberou a edificação de um castelo naquele lugar, onde instalaria também a sede dos templários e o respetivo complexo monástico-militar. A partir de Tomar, os templários administravam grande parte dos territórios da margem direita do rio Tejo, onde edificaram e controlaram seis castelos, tendo como missão primordial a defesa e consolidação do território de Portugal, sucessivamente ameaçado pelos muçulmanos. Além do castelo, edificado segundo os cânones arquitetónicos introduzidos pela Ordem do Templo, o expoente máximo da presença dos templários em Tomar é o Convento de Cristo, que seria profundamente reformulado no século XVI, sendo considerado um dos expoentes da arte manuelina e maneirista em Portugal. NO seu interior encontra-se a Charola, capela octogonal de origem românica, com influências orientais, aludindo ao Santo Sepulcro de Jerusalém. Este complexo monumental seria classificado como Património Mundial pela UNESCO em 1983, sendo considerado a maior área coberta por um monumento em Portugal e uma das maiores do mundo. Além do Castelo e do Convento de Cristo, o legado templário de Tomar estende-se à Igreja de Santa Maria do Olival, templo românico-gótico construído no século XIII, considerado panteão dos Mestres Templários portugueses.
CRONOLOGIA
Século I – fundação da cidade de Sellium pelos romanos: As origens de Tomar recuam há mais de 30 mil anos, como revelam os vários achados arqueológicos, no entanto, seriam os romanos a instituírem neste local a cidade de Sellium, ou Seilium, que marginava a Via XVI, que ligava Bracara Augusta a Olissipo. Depois dos romanos, os visigodos ocupariam a cidade, designando-a de Selio. 712 – chegada dos muçulmanos a Thamara: com o desmembramento do reino visigótico, após a batalha de Guadalete (711), os muçulmanos ocupam a região, designando a cidade de Thamara, que veio a dar origem ao nome de Tomar e ao rio chamaram “Tamaramá”, que significa "doces águas". No lugar onde se encontra o castelo edificaram uma atalaia para vigilância do seu entorno. 1159 – o Rei D. Afonso Henriques entrega o território de Tomar aos templários: Após alguns anos de negociações com o rei D. Afonso Henriques, a Ordem do Templo abdica da posse da cidade de Santarém - que lhe estava prometida - recebendo como contrapartida a Igreja de Santa Maria da Alcáçova daquela cidade e a cidade e termo do Castelo de Ceras, onde se encontrava o território de Tomar. 1160 – refundação de Tomar por D. Gualdim Pais: atraído pela localização estratégica da antiga vila romana de Sellium, o Mestre da Ordem do Templo em Portugal, D. Gualdim Pais, deliberou a edificação de um castelo naquele lugar, onde instalaria também a sede dos templários e o respetivo complexo monástico-militar, refundando a povoação de Tomar. Na parte de maior elevação, encontrava-se o castelo, bem como os espaços de instalação dos templários, estando, no lado oposto, a charola, o lugar da oração. Na parte mais baixa, a sul, encontrava-se a povoação. 1190 – Cerco da cidade pelo califa Abu Yaqub Yusuf II: lugar estratégico na defesa da linha do Tejo, o castelo de Tomar seria alvo de uma poderosa incursão muçulmana, tendo sido cercado pelo califa almóada Iacube Almançor. Os cavaleiros templários, liderados por D. Gualdim Pais, triunfariam após três dias de conflitos, naquele que terá sido o mais significativo episódio militar desta fortaleza. 1319 – Criação da Ordem de Cristo pelo rei D. Dinis: após a extinção dos templários, decretada em 1312, o Rei D. Dinis institui a Ordem de Cristo na qual incorporaria os membros, os bens e os privilégios da extinta Ordem do Templo, salvaguardando-se Tomar e o seu termo. Inicialmente sediada em Castro Marim, junto da foz do rio Guadiana, a sede da Ordem de Cristo apenas retornaria à cidade de Tomar em 1357, onde se manteria definitivamente. 1420 – Infante D. Henrique torna-se Administrado da Ordem de Cristo: o Infante D. Henrique é uma das mais importantes personalidades de Tomar, considerada a sua “vila predilecta”. Além da instituição do Convento de Cristo, anexo ao oratório dos cavaleiros templários, o Infante promoveu a reforma urbana da vila, redesenhando-a segundo os cânones renascentistas e regularizando o curso do rio Nabão, tendo como objetivo o seu aproveitamento hidráulico. Protegeria igualmente a comunidade judaica, que teria um papel fundamental no desenvolvimento de Tomar. 1510-1515 - Reforma do Convento de Cristo pelo rei D. Manuel I: Tendo como pretensão valorizar o papel da Ordem de Cristo, promoveu a reformulação do seu espaço mais emblemático: o Convento de Cristo. Nesse momento, seria construído o templo, coro e sacristia, a poente da Charola, que também veria o seu conteúdo decorativo significativamente alterado. Concretizado num discurso decorativo que celebra as descobertas marítimas portuguesa, foi executado pelos mestres Diogo de Arruda e João de Castilho, destacando-se a famosa janela da Sala do Capítulo, inserida na fachada ocidental da igreja manuelina. 1581 – realização das Cortes em Tomar pelo rei Filipe I: as Cortes de Tomar iniciaram- se no dia 16 de abril de 1581, tendo como principal propósito o juramento de D. Filipe II de Espanha como rei de Portugal, perante os três estados aí reunidos. A aclamação do rei teve lugar entre o adro da igreja e o terreiro do castelo numa espaçosa barraca coberta com panos das velas. Por inerência, o Rei de Portugal era também o mestre da Ordem de Cristo, por isso mesmo, interviria no Convento de Cristo com a construção do aqueduto dos Pegões Altos, da sacristia nova e a conclusão do claustro de Diogo de Torralva. 1759 – instalação da Real Fábrica de Fiação pelo Marquês de Pombal: a Rela Fábrica de Fiação foi uma das primeiras unidades fabris que nasceram do plano de desenvolvimento industrial promovido pelo Marquês de Pombal. Projeto dos engenheiros Jácome Ratton e Timóteo Verdier, que se tornaria na maior fábrica do género no país, iniciaria o florescimento industrial de Tomar, onde viria a surgir a Real Fábrica das Sedas e, mais tarde, da Real Fábrica de Chapéus. Também a indústria do papel seria fundamental, com a instalação das Fábricas do Prado, da Matrena e de Porto de Cavaleiros. 1844 – elevação a cidade pela Rainha D.ª Maria II: Na sequência da visita da rainha D. Maria II, em 1844, a vila de Tomar é elevada a cidade, tornando-se na primeira localidade do distrito de Santarém a beneficiar desse estatuto. Esta distinção não será alheia à influência de António Bernardo da Costa Cabral, que a monarca tornaria I Conde de Tomar, e que se instalara numa das alas do Convento de Cristo desde 1838, zelando pela conservação do seu património. 1910 – fundação da a Moagem “A Portuguesa” por Manuel Mendes Godinho: com a aquisição da central elétrica, instalada pela empresa Cardoso d'Argent no antigo Lagar de Pedro d'Évora, Manuel Mendes Godinho funda a Moagem “A Portuguesa”, base do seu grande empreendimento industrial, que foi fundamental para o desenvolvimento da cidade. 1983 – classificação do Castelo e o Convento de Cristo como Património da Humanidade: reconhecendo a singularidade do conjunto do Castelo Templário e do Convento de Cristo, a UNESCO procedeu à sua classificação como Património da Humanidade. Nesta sequência, iniciou-se um processo de progressiva recuperação e valorização do centro histórico da cidade, no qual se integrou a reabilitação do Cine- Teatro Paraíso, o Museu de Arte Contemporânea e um grande complexo desportivo aquático.