BIOGRAFIA
Rita Lee (1947-2023) foi uma cantora, compositora e escritora brasileira, considerada a “Rainha do Rock” no Brasil. Nascida em São Paulo, iniciou a carreira nos anos 1960 como integrante dos Mutantes, banda pioneira do tropicalismo, misturando rock, psicodelia e música brasileira. Seguiu depois carreira a solo, criando um repertório que uniu irreverência, humor e crítica social, com sucessos como Ovelha Negra, Lança Perfume e Mania de Você. Parceira musical e de vida de Roberto de Carvalho, vendeu milhões de discos e influenciou gerações de artistas. Além da música, escreveu livros autobiográficos e infantis. Rita Lee era conhecida pela postura livre e pela defesa de causas como direitos dos animais e ambientais. A sua morte em 2023 gerou grande comoção, confirmando-a como um marco da cultura pop brasileira.
QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS
NATÁLIA CORREIA
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo.
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro.
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, Nem é a morte.