BIOGRAFIA
Maria Velho da Costa (1938-2020) foi uma das mais inovadoras escritoras portuguesas contemporâneas, com uma obra marcada pela experimentação linguística e pela reflexão social. Licenciada em Filologia Germânica, destacou-se desde cedo na literatura, explorando narrativas fragmentadas e uma linguagem de grande densidade poética. Tal como Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, foi coautora de Novas Cartas Portuguesas, obra que desafiou o regime e se tornou símbolo internacional da luta pela liberdade de expressão. Entre os seus livros destacam-se Maina Mendes, Lúcialima e Irene ou o Contrato Social. Velho da Costa foi também argumentista, ensaísta e adida cultural em Cabo Verde. Recebeu o Prémio Camões em 2002, consolidando o seu lugar entre as grandes vozes da literatura em língua portuguesa. A sua escrita, densa e singular, permanece como referência obrigatória para quem estuda a literatura portuguesa do século XX.
AS FACAS
MANUEL ALEGRE
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.