Florbela Espanca

Florbela Espanca

BIOGRAFIA

Florbela Espanca (1894-1930) foi uma das mais marcantes poetisas portuguesas, cuja obra intensa e lírica rompeu convenções literárias e sociais do seu tempo. Nascida em Vila Viçosa, viveu uma infância marcada por dificuldades familiares e uma personalidade precoce e sensível. Estudou em Évora e na Faculdade de Direito  da Universidade de Lisboa, destacando-se como uma das poucas mulheres da época a frequentar o ensino secundário e universitário. A sua poesia, profundamente marcada pelo amor, desejo e inquietação existencial, reflete também uma busca de liberdade e afirmação feminina, temas ousados para o início do século XX. Publicou obras como Livro de Mágoas (1919), Livro de Soror Saudade (1923) e Charneca em Flor (1931, póstumo), caracterizadas por uma escrita intensa, sensual e melancólica. A vida pessoal de Florbela foi turbulenta, com vários casamentos, perdas dolorosas e problemas de saúde que agravaram o seu estado emocional. Em 1930, aos 36 anos, suicidou-se, deixando um legado literário que influenciou gerações. Hoje, é reconhecida como símbolo de uma voz feminina livre e apaixonada, cuja obra continua a emocionar e inspirar leitores, revelando uma sensibilidade à flor da pele e um inconformismo intemporal.

TARDE DE MAIS…

FLORBELA ESPANCA

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar…

Chegaste enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu fui nova e linda!…
E a minha boca morta grita ainda:
“Por que chegaste tarde, Ó meu Amor?!…”

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