Cleópatra

Cleópatra

BIOGRAFIA

Cleópatra VII Filopátor (69 a.C. – 30 a.C.) foi a última rainha do Egipto ptolemaico e uma das figuras mais célebres da Antiguidade. De ascendência grega macedónica, herdou um trono cercado por intrigas internas e pressões externas do crescente poder de Roma. Inteligente, culta e poliglota, dominava vários idiomas, incluindo o egípcio — algo raro entre os governantes da dinastia Ptolemaica. Cleópatra aliou-se estrategicamente a Júlio César, com quem teve um filho, e mais tarde a Marco António, numa relação que uniu política e paixão. Juntos, tentaram preservar a independência do Egipto, mas acabaram derrotados por Otaviano (futuro imperador Augusto). A sua morte, envolta em mistério, é tradicionalmente associada à mordida de uma cobra venenosa, tornando-se símbolo de tragédia e poder feminino. A imagem de Cleópatra oscilou entre “femme fatale”  e soberana esclarecida, sendo alvo de inúmeras representações na arte, no teatro e no cinema. A sua habilidade política, carisma e ousadia transformaram-na num mito eterno, lembrada como mulher que desafiou impérios e moldou a história.

TODAS AS VIDAS

CORA CORALINA, PSEUDÔNIMO DE ANNA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO BRETAS

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
— Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida —
a vida mera das obscuras.

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