BIOGRAFIA
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma das mais importantes poetisas da literatura brasileira e figura central da poesia em língua portuguesa no século XX. Nascida no Rio de Janeiro, perdeu os pais muito cedo e cresceu com a avó, num ambiente de forte religiosidade e disciplina. Desde jovem demonstrou grande sensibilidade para a escrita e a música. Publicou o primeiro livro, Espectros, aos 18 anos, já revelando um lirismo marcado por musicalidade e introspeção. Ao longo da sua obra, Cecília transitou por diferentes correntes estéticas, mantendo sempre uma voz própria, delicada e profunda. Foi também professora, jornalista e conferencista, defendendo a educação como pilar da transformação social. A sua poesia reflete preocupações universais — a passagem do tempo, a transitoriedade da vida, o amor e a morte — e é reconhecida pela perfeição formal e pela harmonia rítmica. Obras como Romanceiro da Inconfidência e Viagem consolidaram o seu estatuto de grande mestre da língua. Internacionalmente respeitada, traduziu autores e foi traduzida em várias línguas. Cecília Meireles é celebrada não apenas pela qualidade literária, mas também pela integridade intelectual e pelo contributo para a cultura lusófona, sendo considerada “a voz etérea” da poesia brasileira.
A BAILARINA
CECÍLIA MEIRELES
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
